BAGAGEM é um projeto de pesquisa e atuação desenvolvido pela artista Edith Derdyk, visa agrupar distintas experiências que investiguem o enunciado “caminhar como prática estética”, proposto inicialmente no livro Walkscapes de Francesco Careri. Deriva para um território aberto e errático em busca de mapeamentos – seja através da compilação de referências bibliográficas, seja através da apresentação de material iconográfico extenso - envolvendo o ato de caminhar como ação presente e fundamental para o percurso da civilização humana.
Através de imersões – fora ou dentro do ambiente urbano -, proposições práticas, encontros teóricos, grupos de estudo, “relatos de viajantes”, BAGAGEM irá reunir, ao longo do tempo, estas informações e, simultaneamente, visibilizar os próximos passos.
Todas as ações e proposições de BAGAGEM – viagens imersivas, encontros teóricos e práticos, grupos de estudo, exposições, publicações, - visam sedimentar por um lado e desestabilizar por outro, as bases conceituais que movimentam este projeto, seja através da apresentação de experiências poéticas e artísticas que acontecem ao longo da História da Arte, contando também com a presença de artistas que tem como matéria prima de sua “ópera” o ato de caminhar; bem como propor cruzamentos interdisciplinares (ou indisciplinares) conectando Arte, Ciência e Técnica - , através da presença de profissionais ligados às outras áreas de conhecimento – astronomia, matemática, física, biologia, bem como poetas, filósofos, antropólogos e tantos outros ramos, troncos e raízes do conhecimento.
BAGAGEM
poema produzido na vivência / Taissa Montiel
Encontrei [meu] mar ele tem cheiro de estrume.
Cabelo de vento.
Não achei a mata achei o mar,
o ar,
os limites de cada fronteira
deu vontade de pular atravessar, em equilíbrio sem cair
passagem
o vento faz barulho nos cabelos verdes
O Mar é verde
Eles me enfrentaram (vacas)
O mais robusto a frente, olhar firme
Baixei a cabeça e continuei nadando
Cheguei na mula sem cabeça
E tinha um bicho lá dentro do buraco
Alguém se aproximou
Pé depois de pé, em pé
Equilíbrio
Equilíbrio de fronteiras
Fui sem nada, voltei com nada
Com os cabelos verdes
Subi tomando sol, desci debaixo dele
No começo era água
Ritmo da pisada pesado
Olhar para baixo, subir a montanha
O mar é montanha
O píer a primeira vista
Sair da água e voltar para ela
Num só salto
A solidão consola na amplitude da imensidão
VENTO PÉ PISADA MATA NAVIO DO PIRATA BANDEIRA QUADRADO QUADRANTE ENQUADRA BUSCA COMPANHIA O CACHORRO BURACO VERMELHO VAZIO NO CHEIO
PASSAGEM PAISAGEM
O mar vazio é buraco na montanha
Galho tronco pedaço
Demarcação, andar na demarcação
Espera e as observações de sua memória viva
Descalça pisar na madeira
Onde estão as quatro palavras da placa?
Desço, quero sombra
Entrar na mata
Acho casa
Morada estranha
Dois porque o equilíbrio é dois
Opostos o tronco é reto
E forma um quadrado
O céu é o mar
Andar sobre o quadrado
Dos troncos
Ligar um abismo no outro
As vezes cai
O medo faz cair [e levantar]
Atravessar pensamento
Aqui dali
Linha para atravessar com um pé só
Para atravessar no escuro de olhos fechados
Levar para algum lugar
Torta por linha reta
Leva uma linha
O chão de giz
Chão risco giz
Casa 1 Casa 2 Casa 3 Casa 4
São quadros, quatros lados
A sombra dos pés balançando o píer
Encostou na água
Deitou esticou o corpo
O sol esta queimando a praia
Vira de lado põem o cabelo verde em cima do rosto
O que nos resta é isso
Volto com nada e sem nada
Agora durmo e tem som de pássaro
Linha para levar para alguém
Durmo
E aqui não tem âncora
Durmi
O mar é verde
De pequena ou grande escala
E o tecido de algodão cru que esqueci
Mas aqui tem tudo
Só não tem âncora
Abismo
Onde mora o sol e a lua
Onde mora a gente
As casas redondas e as casas quadradas